quarta-feira, 11 de março de 2015

Panelaço é só a ponta do iceberg

Por Hubert Alquéres

O que foi dito pelo Palácio do Planalto logo após ser surpreendido pelo panelaço do último domingo não convence sequer o mais crédulo e fanático petista. Acusar a classe média, a burguesia e a oposição de querer um terceiro turno eleitoral, e desqualificar a barulhenta manifestação, é mero discurso para consumo interno. É a única e quase desesperada linha de defesa ao alcance das mãos de uma presidente isolada de tudo e todos.
Dilma e seus estrategistas sabem muito bem que o panelaço foi a ponta do iceberg de um estado de espírito existente em diversos segmentos da sociedade.
A ira dos brasileiros vem crescendo desde as eleições e tende a se avolumar cada vez mais. Não é difícil entender as razões.
No mundo conectado de hoje, ninguém muda de discurso, da noite para o dia, impunemente. A transparência passou a ser um valor a partir do qual os brasileiros julgam seus políticos.
Ora, a presidente adotou durante a campanha o discurso de Alice no País das Maravilhas. Fez mais: acusou seu adversário, afirmando que, se vencesse, ele promoveria desemprego, recessão, aumento de juros e o diabo a quatro.
Pois bem, eleita Dilma deu um cavalo de pau na economia, e fez tudo o que disse que seu adversário faria. Legitimamente, os brasileiros, mesmo parte dos seus eleitores, se sentiram logrados, vítimas de grossas mentiras.
Perceberam que o país não vivia em um conto de fadas, como vendia a candidata Dilma, mas em um filme de terror, uma crise econômica gravíssima, na qual recessão e inflação andam de mãos juntas.
A ira do povo aumentou ao constatar que a presidente vinha com mais uma história da carochinha: a conversa de que a crise econômica era produto da situação externa e da seca, que ela repetiu no pronunciamento na TV no Dia da Mulher, na tentativa de transferir responsabilidades, de livrar a cara de seu governo.
Aí já era demais! Foi contestada até mesmo por Marta Suplicy, hoje prestes a ser mandada para a fogueira da inquisição petista: “Tentando se apoiar na ultrapassada justificativa da crise internacional, Dilma negou, mais uma vez, a gravidade e dimensão da atual crise econômica, as responsabilidades do seu governo e as consequências de seus desdobramentos para o povo brasileiro”.
Mas qual a gota d´água que transbordou no panelaço ?
A corrupção na Petrobras.
Ou melhor, a insistência do governo de diluir sua gravidade, de transferir responsabilidades, de tergiversar. De vir com escapismo do tipo “estão querendo privatizar a Petrobrás”, de ver conspirações onde inexistem, de manipular, chantagear e alardear que há um golpe em curso; de desqualificar a classe média, tachando-a de fascista.
O iceberg tem, portanto, uma base objetiva. No domingo mostrou a sua ponta. Nesta terça-feira veio à tona mais um pouco: Dilma e o PT foram vaiados no Salão Internacional da Construção em São Paulo.
Essa é a verdadeira dimensão da crise: a cada dia aumenta o fosso entre a presidente e o povo.
Corremos sério risco de ter uma presidente, por quatro anos, aprisionada nas redomas do Palácio do Planalto. Que reina, mas não governa. 

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